sábado, 21 de julho de 2012

Uma história sobre implantes mamários de silicone e doenças do tecido conjuntivo

Carlota Veiga de Macedo

As doenças do tecido conjuntivo são processos inflamatórios e degenerativos mais ou menos difusos. Têm manifestações muito diferentes. Geralmente são de origem idiopática mas costumam estar relacionadas com problemas de índole auto-imune.



Aqui só vai haver referência às doenças auto-imunes, já que só destas reza a história.

Seguem-se quatro exemplos mais vulgares:


Lúpus eritematoso sistémico

Doença multissistémica cujos sintomas principais são febre, mal-estar, inflamação nas articulações, inflamação no pulmão (pleurisia), inflamação dos gânglios linfáticos, dores pelo corpo (por causa das inflamações), manchas avermelhadas e úlceras na boca (aftas).


Esta doença, num estado mais avançado, promove a acumulação de complexos imunes (lesão wire-loop) no glomérulo podendo levar a uma falência renal.




Síndrome de Sjögren

Doença que afecta glândulas exócrinas, como as salivares e lacrimais. Os sintomas principais são secura da boca (xerostomia) e dos olhos (xeroftalmia). Adicionalmente poderá haver secura da pele, da mucosa nasal e vaginal. Outros órgãos afectados podem ser: rins, pulmões, fígado, pâncreas, cérebro e vasos sanguíneos.


Esta imagem é de uma pequena glândula salivar com acumulação de linfócitos:



Artrite Reumatóide

Doença caracterizada pela inflamação crónica das articulações.


Nesta imagem histológica podemos ver a substituição do tecido cartilagineo por tecido inflamatório:



Esclerodermia

Doença onde o processo envolve um aumento de tecido fibroso, principalmente na pele.



Também afecta os pulmões resultando numa fibrose pulmonar difusa intersticial e alveolar.


Agora já tendo algumas noções sobre que tipo de doenças que vão ser focadas já se pode iniciar o relato de um assunto que moveu muitas pessoas, gastou muito papel, e direccionou muitas investigações cientificas.

Esta história inicia-se nos EUA onde em 1992 após milhares de queixas de mulheres com implantes mamários que passaram a sofrer DTC, a FDA limita a utilização nos EUA para pós-mastectomias, doenças congénitas e substituição de implantes com rupturas.

Essas queixas levaram a processos judiciais onde muitas mulheres foram indemnizadas com vários milhares de dólares.

Em tribunal a Ciência, apresentando várias provas da inexistência de relação entre este tipo de doenças e a colocação de implantes de silicone, foi desacreditada, prevalecendo a ideia do público em geral e dos Media.

Em 1995, a Dow Corning Corporation entra em insolvência devido a ser processada por cerca de 19 0000 mulheres.

Dezenas de artigos científicos foram publicados refutando a ideia do aumento de risco de DTC e a FDA pede parecer à National Academy of Sciences.

Em 1999 o painel da National Academy of Sciences afirmou que os implantes NÃO aumentava o risco de DTC, cancro da mama, doenças imunitárias ou outro tipo de patologias.

Em 2006, passados 7 anos do parecer da National Academy of Sciences, e depois de mais outras dezenas de artigos científicos de revistas de muito boa reputação, a FDA levantou a limitação da utilização dos implantes mas com reservas, pedindo monitorização do pós-operatório com duração de 10 anos a pelo menos 40 000 mulheres.

Fica a dúvida, porquê destes 15 anos de limitações, excesso de zelo, ou dificuldade em admitir o erro? Será também por considerarem uma futilidade tal procedimento para as responsabilidades que daí poderiam advir? Mas nesse caso não seriam as mulheres a decidir? Não deveria ser um direito das mulheres, através de consentimento informado, a colocação destes mesmos implantes?

Como conclusão podemos dizer que os implantes mamários de silicone são seguros. Também podemos reflectir acerca do frágil equilíbrio entre as opiniões, boatos, regulamentações e factos entre os Media, Governo, Ciência e Público em geral. 

Nunca nada vem de modo isolado, tudo está integrado num conjunto de influências e factos, uns verdadeiros outros não.


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