quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nova aplicação terapêutica do Carvedilol

Lúcia Almeida

Efeitos antifibróticos em lesões hepáticas crónicas, por exposição a CCl4.
No dia 10 de Abril de 2012, foi publicado no Elsevier ( Toxicology and Applied Pharmacology ), um estudo sobre a potencial capacidade do fármaco Carvedilol, em reverter lesões fibróticas hepáticas crónicas. Neste estudo, foi usado um modelo de hepatotoxicidade induzida por CCl4, em ratinhos.


Breve nota Introdutória
A fibrose hepática progressiva representa o estágio final inerente a qualquer lesão hepatica crónica, conduzindo a cirrose, perda da função hepática e em última instância, a carcinoma hepatocelular.

Tóxicos , tais como o CCl4 ( usado como refrigerante, pesticida, agente extintor) que se encontram disseminados no meio ambiente ( água, ar, solos) são alguns dos responsáveis por este tipo de lesões. O stress oxidativo gerado por espécies reactivas de oxigénio ( ROS) desempenha um papel fundamental na produção de lesão hepática, que conduz à fibrose .

O Carvedilol insere-se no grupo dos fármacos do Aparelho Cardiovascular, sendo um Anti- Hipertensor, actuando como um Bloqueador β-adrenérgico. Desta forma, é frequentemente usado na hipertensão portal que a fibrose e cirrose hepáticas acarretam.

Os benefícios que acompanhavam o tratamento com o fármaco, começaram a despertar o interesse de vários investigadores que se propuseram a estudar o seu efeito antioxidante, na reversão das lesões fibróticas hepáticas.

Métodos
Os ratinhos ( 60 machos albinos) foram divididos em 4 grupos de estudo de igual número de elementos:


Resultados histológicos


   Fig2. Resultados histológicos do tecido hepático, nos 4 grupos de estudo.

A. Grupo tratado com Carvedilol (3º grupo): Não houve qualquer tipo de alteração no tecido: manutenção dos hepatócitos alinhados, “em placa”, com sinusóides que se deslocam entre as placas de hepatócitos para convergir sobre a vénula hepática terminal-veia central).

B. Grupo controlo (4º grupo): sem qualquer alteração do tecido.

C. Grupo inoculado com CCl4 (1º grupo): degeneração hepatocelular, com formação de tecido fibroso infiltrado com células inflamatórias. Houve rearranjo da estrutura hepática (com perda da estrutura de “hepatócitos em placa”) e fibrose septal.

D. Grupo inoculado com CCl4 e tratado com Carvedilol: Acentuada diminuição de tecido fibrosado. Os hepatócitos retomaram a sua aparência e rearranjo normais.


Conclusão

Com este estudo verificou-se que o tratamento com Carvedilol reverte substancialmente as lesões histopatológicas, com restauração da funcionalidade do órgão, em maior ou menor extensão. Neste mesmo estudo, verificou-se também uma acção do fármaco ao nível da peroxidação lipídica, deplecção de GSH, redução da actividade de enzimas antioxidantes, catalase e glutationa-S-transferase induzidas pelo CCl4.

Em suma, este estudo demonstra o quão promissor é este fármaco, na restauração da funcionalidade hepática pós-lesão.


Referências

Dandona, P., Ghonim, H., Brooks, D.P., 2007. Antioxidant activity of carvedilol in cardiovascular disease. J. Hypertens. 25 (4), 731–741.

Hamdy N., El-Demerdash E., Toxicology and Applied Pharmacology - New therapeutic aspect for carvedilol: Antifibrotic effects of carvedilol in chronic carbon tetrachloride-induced liver damage. Abril 2012.

O'Neil, Maryadele J. et al., The Merck Index - An Encyclopedia of Chemicals, Drugs, and Biologicals, 2006.

Ross M.H., Pawlina W., Histology, a Text and Atlas, 6th ed, 2011. 629, 632, 634, 657-659.
http://www.infarmed.pt/prontuario/framepesactivos.php?palavra=carvedilol 

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